Petrobrás: “lava jato” tem pai e mãe
O
esquartejamento da Petrobrás não se circunscreve, unicamente, ao assalto
praticado por alguns membros da sua diretoria. A roubalheira apontada pelo
Ministério Público Federal e Polícia Federal é calculada em R$ 10 bilhões.
Paralelamente a essa realidade vergonhosa no governo Dilma Rousseff, de agosto
de 2011 a agosto de 2014, a não paridade dos preços dos combustíveis foi
responsável por uma perda potencial de US$ 15 bilhões. Admitindo-se o câmbio
médio de R$ 2,40, para o dólar, representa R$ 36 bilhões. Afetando o seu caixa,
forçando a elevação do endividamento recorde
de R$ 270 bilhões para desenvolver os seus projeto de investimento no
pré-sal. A defasagem dos preços de combustíveis representa três vezes e meia a
mais, em valores, do que vem sendo registrado nas investigações que estão
envergonhando os brasileiros decentes.
A
maior empresa brasileira e das mais importantes do mundo no mercado petrolífero
vem sendo motivo de investigação internacional. Nos EUA, o jornal “The Wall
Street Journal” (13-11-2014) aponta que a Comissão de Valores Mobiliários (SEC)
está realizando inquérito civil sobre o escândalo. Pela razão da Petrobrás ter suas
ações negociadas na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Outra investigação se
origina no Departamento de Justiça dos EUA, sobre possível violação da Lei de
Práticas de Corrupção no Exterior. E mais: na Holanda, a SBM Offshore,
fornecedora da estatal brasileira, acaba de fazer acordo com o Ministério
Público holandês, para evitar processo judicial por corrupção. Decorrente de pagamentos,
feitos em contratos com a Petrobrás. Pagou US$ 139 milhões entre multas e
ressarcimento, por ter corrompido diretores da estatal.
Felizmente,
a ação do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, ante a omissão
oficial, resolveu investigar e enfrentar na “Operação Lava Jato”, os poderosos
corruptos. A sra. Dilma
Rousseff, atacada pela “restrição mental” de Santo Agostinho, tenta induzir que
as investigações são determinadas pelo governo, incorrendo em equívoco mortal.
Aqueles são órgãos de Estado e não de governo, tendo assegurado pela
Constituição a obrigação de investigar, com independência, sem nenhuma subordinação
ao governo de plantão. Tem autonomia constitucional incontestável. Em tempo: nos últimos anos o Congresso Nacional instalou diversas
CPIs para investigar, o que se sabia em boca pequena, ser os desmandos e
assalto patrocinado por “larápios” políticos e empresariais. Os governos, tanto
Lula quanto Dilma, através a submissa maioria
parlamentar oficial, transformaram aqueles órgãos em “CPIs de Farsantes”,
impedindo o seu funcionamento democrático.
Em
verdade, o que aconteceu na Petrobrás, na última década, documento oficial do
próprio governo, comprova que a economista Dilma Rousseff e o ex-presidente
Lula da Silva, sabiam que “mal feitos” vinham acontecendo. Está registrado no
“Diário Oficial” da União: na Mensagem nº 41, de 26/11/2010, da Casa Civil,
ocupada por Rousseff, o presidente da
República, mandava ao Congresso veto contra decisão que bloqueava o pagamento
de contratos suspeitos da Petrobrás. Eram dispositivos da lei orçamentária,
aceitando recomendação do Tribunal de Contas de União, acolhida pelo
legislativo impedindo o pagamento de obras superfaturadas. Resultado: com
aprovação do veto presidencial, o governo Lula da Silva liberou R$ 13,1 bilhões
para quatro obras da Petrobrás. Desse total, R$ 6,1 bilhões foram destinados à
construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Os responsáveis pelo veto infringiram
o art. 37, da Constituição, no seu parágrafo 5º que diz: “A lei estabelecerá os
prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou
não, que causem prejuízo ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.”
O Supremo Tribunal Federal, fixou
jurisprudência, considerando imprescritíveis atos como os praticados por
Lula/Dilma, na Mensagem nº 41 de 26/1/2010. O advogado e deputado federal
constituinte, Osvaldo Macedo, enfatiza que “ações de ressarcimento são imprescritíveis.”
Justificava
o veto “por contrariedade do interesse público”. Era o sinal verde para o saque
corrupto, sem limite, no patrimônio da estatal brasileira. O TCU, na sua
proposição ao Congresso Nacional, demonstrava que os contratos eram nocivos aos
interesses nacionais. Levando o poder legislativo a bloquear a transferência de
dinheiro para as obras superfaturadas, sobretudo na Refinaria Abreu Lima. Além
dela, o Conjunto Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) a Transpetro, e um
número enorme de obras contratadas pela Petrobrás.
Quando
Dilma Rousseff expressa surpresa com o resultado das investigações é preciso
recorrer à história. Ministra de Minas e Energia, passou a presidir o Conselho
de Administração da Petrobrás. Posteriormente ao ser empossada na Casa Civil,
continuou na presidência do CA. Ao se candidatar a se eleger em 2010, indicou
surpreendentemente o ministro Guido Mantega para presidir o Conselho da
estatal. Sepultando um paradigma de ser sempre, desde a sua criação, o titular
na presidência da CA, o ministro de Minas e Energia. Eleita, nomeou o senador
Edson Lobão, um ignorante e despreparado em energia e petróleo, para responder
pelo Ministério de Minas e Energia. Na
prática, a verdadeira ministra da área era a presidente da República, que se
autodefine como “especialista notável” no setor.
Nos
últimos 12 anos, a influência na Petrobrás de Dilma Rousseff foi determinante.
A nomeação da diretoria executiva, começando pelos três presidentes José Eduardo
Dutra, José Sérgio Gabrielli e Graça Foster (sua amiga pessoal) e os seus diretores
sempre passou pelo seu crivo por ser supostamente “competente gestora”. Exemplo:
no primeiro governo Lula, o professor da USP, Ildo Sauer, especialista em energia,
ocupou a diretoria de Gás. Por divergir da sra. Rousseff, em relação ao gasoduto
Brasil-Bolívia, foi sumariamente demitido. Infelizmente não teve a mesma
atitude com outros diretores, principalmente com os agora envolvidos nos “mal
feitos” que vem atingindo a imagem internacional do próprio Brasil com o volume
de bandalheiras apuradas até agora.
Por
fim, o mantra “eu não sabia”, transformado em escudo protetor, quando eclodem
os desvios administrativos e corruptores no governo, acaba de receber o tiro
mortal na “Operação Lava Jato”. O ex-presidente Lula da Silva e a sua discípula
no exercício da Presidência da República, não podem mais convencer os
brasileiros de que não sabiam do
descalabro corrupto econômico envolvendo políticos, diretores e empreiteira adjetivado
de “petrolão”.
Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela
Universidade Estadual Paulista (Unesp). Foi Deputado Federal (1978-1991). É
autor de vários livros sobre a economia brasileira.
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