Chamado de Dentinho, Ronaldo tinha medo de 'fantasma' famoso no Cruzeiro












































Fenômeno recebeu na Raposa o mesmo apelido de seu atual companheiro de ataque e sofria com brincadeiras sobre aparições de Roberto Batata

Carlos Augusto Ferrari
Belo Horizonte


Em 16 anos de carreira, Ronaldo superou os mais difíceis obstáculos para se transformar em um dos maiores nomes do futebol em todos os tempos. Dos mais temidos zagueiros e goleiros às mais graves lesões nos joelhos: nada conseguiu deter o atacante. Mas há uma coisa que fez o goleador perder seus poderes e fraquejar. Algo que, curiosamente, também é chamado de fenômeno, mas do outro mundo: o fantasma de Roberto Batata.

Se hoje no Corinthians Ronaldo é o "cabeça" das brincadeiras com os mais jovens, um dia os papéis eram trocados. A chegada em 1993 ao Cruzeiro daquele garoto magrelo, dentuço e de olhar desconfiado foi um prato cheio para que os veteranos abusassem das piadas e do temor dele por ambientes sem luz e com histórias de arrepiar os cabelos.

Roberto Batata foi um bom atacante da Raposa que morreu em 1976, durante a Taça Libertadores, vítima de um acidente automobilístico na rodovia Fernão Dias. Ele viajava até Três Corações para visitar a esposa Denize e o filho Leonardo, na época com apenas 11 meses. Pouco tempo depois, o clube se sagraria campeão sul-americano.

A partir da tragédia, uma lenda foi criada em torno do jogador. Funcionários, jogadores e até dirigentes do Cruzeiro relataram que ouviram durante a madrugada chutes no alambrado de um dos campos da Toca da Raposa sem que ninguém estivesse treinando. Seria o fantasma de Roberto Batata. Ronaldo foi uma das vítimas das brincadeiras com o assunto.

- O Ronaldo era muito medroso. O telefone e a lanchonete da Toca ficavam do outro lado. Quando ele ia para lá à noite, alguém ficava escondido e, assim que ele passava, chutava a bola no alambrado. Era muito escuro. Ele corria muito. Sempre era o primeiro a correr (risos) – contou Anderson Nunes, grande amigo do Fenômeno na base da Raposa.

Longe de casa e dos amigos que deixou no Rio de Janeiro, Ronaldo procurava nos outros jogadores o carinho familiar que não tinha naquele momento. Para suprir essa carência, evitava ficar sozinho na concentração. Também, claro, para não passar mais medo nos escuros corredores do clube celeste.

- Nós dividimos o quarto e ele odiava ficar sozinho. Uma vez, saí do quarto para buscar água e acabou a energia. Quando voltei, ele estava encolhido na cama dizendo que havia um bicho lá (risos). Mas, no convívio diário, ele gostava muito de brincar, era muito carente. Sempre estava dando peteleco na cabeça de alguém, como continua fazendo no Corinthians – acrescentou.

Ronaldo era Dentinho e sem moral com a mulherada


As brincadeiras com os companheiros deram margem para que Ronaldo ganhasse apelidos logo que chegou a Minas Gerais. Um deles, curiosamente, era Dentinho, o mesmo de seu atual companheiro de ataque no Corinthians. O outro também tinha a ver com seu dentes: Coelho Ricochete, um veloz xerife dos desenhos animados, sempre acompanhado por seu escudeiro Blau-Blau.

- Os dentes dele eram muito separados (risos). Mas ele nunca achou ruim porque sempre estava inventando apelido para os outros. Nunca foi de apelar – lembrou Anderson, que era lateral-esquerdo, mas precisou abandonar a carreira por conta de seguidas lesões. Atualmente, trabalha com vendas em uma empresa de televisão a cabo.

A aparência de Ronaldo, inclusive, não fazia muito sucesso com as meninas. Período difícil, que rendeu até algumas mentiras para contar vantagens diante dos companheiros.

- Ele voltou da seleção juvenil com uma máquina que aparecia escrito “parabéns a você” quando tirava a foto. Depois, a gente chegava e contava que tinha ficado com as meninas, mostrando as fotos. Mas não tinha ficado nada (risos). O Ronaldo não ajudava, era muito feio. Eu também não pegava nada. Não era fácil (risos) – completou.

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