Belo Horizonte: Ronaldo era 'quieto' na escola
Fenômeno da bola, Ronaldo 'sumiu' da escola na 7ª série, mas deixou raridade
Ronaldo não ganhou o apelido de Fenômeno por acaso. Em menos de um ano, deixou as categorias de base doCruzeiro para fazer parte do elenco daseleção brasileiracampeão mundial em 1994. Entretanto, a curta passagem do craque por Belo Horizonte não impediu que ele deixasse saudade e uma relíquia em um dos lugares que pouco freqüentou: o colégio Madre Carmelita.
Quem passa pela avenida Antônio Francisco Lopes, no bairro Bandeirantes, não imagina que naquele prédio de acomodações simples, mas organizadas esteve um dos maiores ídolos da história do futebol mundial. Ronaldo, na época apenas o “Ronaldinho do Cruzeiro” não aparecia muito por lá, porém, já chamava a atenção pela fama de goleador que carregava.
Emancipado pelos pais desde que foi comprado pelo Cruzeiro do São Cristóvão, Ronaldo fez a própria matrícula no colégio, no dia 2 de março de 1993 para estudar na sétima série do primeiro grau. A escola era reduto da garotada que treinava na Raposa. Freqüentar as aulas era uma obrigação, tanto que o clube contribuía com um valor mensal para ajudar nos custos.
A carreira em rápido desenvolvimento, porém, fez do craque um aluno ausente. Dois meses depois de dar início aos estudos na capital mineira, Ronaldo estreou pela equipe profissional, dia 25 de maio, contra a Caldense, em Poços de Caldas, pelo Campeonato Mineiro. Após isso, as aparições dele no Madre Carmelita se tornaram raras.
- Em pouco tempo, ele passou a se destacar no Cruzeiro e, com isso, a vir menos para a escola. Ele era um orgulho para nós, por tudo que estava conseguindo, mas era difícil vê-lo por aqui – conta a auxiliar de educação Rosa Oliveira Andrade, que viu a chegada dele ao colégio e continua por lá até hoje.
Matrícula de Ronaldo no colégio Madre Carmelita: poucas aulas, mas gols pelo Cruzeiro
Tímido, Ronaldo não fazia parte da “turma do fundão”, sempre os mais bagunceiros nas salas.
Mesmo assim, não conseguia ter grandes notas. Tinha destaque em História e Matemática, mas sofria quando o assunto era o Português. A secretaria de educação de Belo Horizonte se recusou a fornecer as notas obtidas pelo jogador durante o ano letivo.
- Por terem de seguir uma rotina estipulada pelo clube e por chegarem cansados ao colégio à noite, os meninos que eram do Cruzeiro não eram bagunceiros. O Ronaldo sempre foi quieto. Acredito que, se ele tivesse dedicação integral aos estudos, conseguiria notas melhores. Seria um excelente aluno – acrescentou Rosa.
A partir do segundo semestre de 1993, Ronaldo desapareceu definitivamente do colégio, sequer completando a sétima série (em algumas entrevistas, o craque havia dito que terminou o primeiro grau). Os últimos registros mostram algumas presenças em setembro. Mas tudo por um bom motivo: já era titular e artilheiro da Supercopa, com oito gols. Em novembro, foi chamado para a seleção brasileira pela primeira vez, deslanchando internacionalmente.
- Ele começou a vir muito pouco às aulas e não chegou a encerrar ano letivo. Quando foi vendido, também não pediu transferência. A vida estudantil dele acabou por ali – disse Rosa.
No ano seguinte, Ronaldo foi à Copa do Mundo, acabou negociado com o PSV-HOL, mas não esqueceu o Madre Carmelita. Logo após o Mundial, antes de se apresentar ao novo clube, que o havia comprado por US$ 6 milhões, o atacante enviou à escola uma camisa do Cruzeiro autografada como forma de agradecimento.
Curiosamente, a relíquia caiu em mãos celestes. Rosa foi a premiada com a honra de conservar o uniforme, que ainda guarda a assinatura da até então jovem promessa brasileira.
- Como muita gente queria, a direção fez um sorteio e eu ganhei. Sou cruzeirense, vou ao estádio e me sinto muito orgulhosa de ter essa camisa do Ronaldo. Toda a escola tem orgulho por ele ter passado por aqui – completou a auxiliar, tão fanática por futebol que batizou o filho com o nome de Luiz Felipe, em homenagem a Felipão.
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