A bela Aparecida
O especial da família mineira tradicional, principalmente as que de origem das pequenas cidades, como é o nosso caso, é a identificação com a religiosidade.
Lá em casa
temos, São Geraldo, Maria do Rosário de Fátima, essa é santa mesmo, São José, São
Carlos, e temos a Aparecida, nossa padroeira e para não se perder no caminho
colocaram ainda Lourdes, para ficar quase santificada.
Ocorre que
os nomes são dos sonhos dos pais, os filhos já domesticados pelos nomes
carregam a marca até o retorno ao lar celestial, mas em alguns casos, pouco por
sinal, trocam seus nomes, ou acrescentam, por motivos vários.
A santa do
dia é a Aparecida de Lourdes, que responde pela alcunha de Cida. Aparecida, só
a mãe, tia Julita, Vózinha, a chamava e
o pai, a tia Raimunda, tia Naná ainda a
chama.
Tem um que a
chama de Paré.
Minha irmã
tem nome de duas santas e o seu Valdi,
amor da vida dela, pai de seus rebentos a chama de Paré.
Pare né.
A Cida, é
realmente aparecida, a nossa Gabriela, a Carolina, que é muito saída, de vez em
quando é chamada de cidinha.
Nos meus 53
anos, participei de muitos momentos gostosos ao lado da nossa Cida.
Nos tempos
dos namoros, era eu o acompanhante predileto do casal, detalhe, saia e voltávamos
para casa juntos, mas no meio do caminho eu deixava os dois pombinhos sozinhos.
Seu Valdi
sempre me compensava, deixava-me andar na sua bicicleta.
Quando
casaram, era eu o maior frequentador da casa dos nupciantes, disputava com seu Valdi as macarronadas,
cachaças e vinhos, além de ouvir belas músicas do Vinicius que meu cunhado
predileto sempre teve.
Quando
nasceu o primogênito, acredito ter sido também o que mais comeu caldo de
galinha, e que fez o branquelo do Gustavo dormir na rede.
A cida conta
uma história, que não acredito, que o raizeiro, assim chamado pelo São José
Pedro, veja, este nego pau de fumo, tem dois nomes de santos, e pela ordem são
os mais fortes, o pai de Jesus e o patrono da Igreja Católica, mas a Cida diz
que o raizeiro morria de ciúmes meu com o Gustavo, bobagem.
Já os demais
herdeiros da minha santa irmã, quando nasceram, eu havia mudado para o Paraná, aliás
acho que foi providencial, pois imaginem se enrabichassem comigo como o
Gustavo, meu cunhado iria acabar ficando careca.
Minha
adorável irmã sempre foi uma batalhadora, nunca deixou a peteca cair. Curtiu os
belos momentos que a vida lhe presenteou através dos esforços conjunto do
casal, e soube suportar com galhardia todas as dores das pedras naturais de
nossas caminhadas.
Sua relação
com a mãe foi intensa e sempre chorava colo e achava que a bela Matildes puxava
muito a sardinha para a outra santa Maria do Rosário.
Irmãs
inseparáveis, cada qual com suas santidades, a Cida contou com a cumplicidade e
a forma tranquila da ajuda da irmã caçula, que não é santa, mas que foi uma santa
ajudando-a a cuidar de sua renca, que só não derrubavam poste, os postes
caídos.
Muitas
coisas que faço diz muito respeito à Cida, e com menos preparo que ela, ainda
engatinho na busca de uma vida espiritual mais equilibrada.
Nas
lembranças de infância suas histórias se confundem com as da Dinha, mas a magia
como ela se postava como baliza em desfiles de datas especiais no nosso belo
Sem Peixe, é um retrato permanente em minhas recordações.
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