Cortar o cabelo e a saudade do Sr.Nego
Cortar cabelos sempre é um atropelo.
Para quem mora no mesmo lugar e só muda o
vaso sanitário da casa pelo do trabalho, é coisa simples.
Chega, senta na cadeira, olha para o
barbeiro, o barbeiro olha para ele e pronto, é o mesmo corte desde que o
barbeiro colocava uma tábua na cadeira para dar altura para ele sentar.
Para quem gosta de cortar os cabelos e deixar
a naba da orelha de fora, é simples.
Para quem acha que frequentar um salão para
cortar os cabelos é mais um adereço do capitalismo, é fácil.
Para quem nunca muda o sorriso, o humor, e o lado da cama, é simples.
Para quem nunca se olha no espelho e só visualiza
o rosto quando chove, em poças dágua ou nos reflexos de lagoas, é fácil.
Para quem nunca disse aos seus filhos, eu
te amo, é fácil.
Para quem carrega pente no bolso, é fácil.
Para quem gosta de ir ao mesmo barbeiro
para ouvi-lo falar de mulheres alheias, política, de homens com chapéu de boi e
as mesmas piadas, é fácil.
Para quem tá durango e tem que pendurar a
conta, é fácil.
Difícil é para quem não é nada disto e
gosta de frequentar salão.
Difícil é para quem muda de endereço com
frequência.
Difícil é sentar na cadeira do profissional
e nem saber seu nome, e não levar a prosa adiante.
Difícil é ter que toda vez repetir o jeito
que você quer o corte dos cabelos.
Fácil é relembrar do Sr. Nego.
Fácil e nostálgico é lembrar as histórias
contadas pelo Sr. Nego.
Fácil engraçado é quando aos completos meio
século de vida, ver o barbeiro cortar o seu cabelo do mesmo jeito que um dia o
Sr. Nego cortou e que te acompanha até hoje.
Difícil é chegar em casa e a cachorra esconder o rosto entre as patas, a gata dar um pulo de susto para o alto quando te veem. e não ver ninguém
olhar com olhar agradável e de aprovação.
Mesmo que use a desculpa de ter feito uma
homenagem ao querido amigo que há 45 anos atrás, falava que já tinha 60 anos de
profissão.
Nostálgico e engraçado é relembrar sua
piada favorita.
- Guardava a dentadura à noite dentro de um
copo de água, antes de dormir. Certo dia a dentadura não estava no copo.
Passado alguns meses, privado de comer carne e azeitonas com caroço, ao tentar pegar um chapéu em cima do guarda roupas, ele dá
de cara com um rato rindo para ele.
Acabara de achar sua dentadura.
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