Carnaval, tempos modernos e a delinquência intelectual
Acompanhado de uma enorme dose de
irracionalidade, as músicas que ornamentam e animam o carnaval curtido hoje
pelos sujeitos da sociedade parece mais uma pandemonea de animalescos
indivíduos, indomáveis, conscientes de suas mazelas, atos e coreografias,
abestalhados pelo embalo do ritmo da batida incessante de uma zoeira musical, o
Funk, mais parecendo convite ao pulo no buraco negro do que satisfazer-se pela
incursão às letras, tons e embalos dos sons que embalaram a todos que já
passaram por este torrão. Pelas esquinas, ruas, avenidas e além mares,
tropeçamos em incontáveis jovens, mais parecendo acéfalos, ou corpos mexendo
como zumbis, tropeçando em suas próprias sombras.
Fazendo parte deste cenário como os outros
sujeitos desta história, e passivos, somos obrigados a ouvir e aceita-lo
incorporado como o mais novo movimento cultural e social brasileiro.
A batida do Funk, entra, penetra no subconsciente
do indivíduo, aliciando-o como ao aliciamento aos futuros dependentes que
entorpecidos voam ou surfam em ondas, marés ou nuvens de seus imaginários sem
sonhos. Aos que cultivam algum valor no gosto musical, tudo isto é algo que
incomoda e que postados, incapazes em lutas inglórias na sua condenação, forçados
ao convívio, como a uma tiririca em jardins ou crianças em braços de políticos
em período eleitoral.
Esta doença musical na batida do Funk surgiu
na periferia e nos morros, como febre em criança em seus primeiros anos de
vida. Como movimento cultural, está à distâncias lunares do bom gosto dos
mesmos lugares que nos ofertou o admirado samba e percussores de outros
movimentos da música brasileira, como o chorinho, jazz, bossa nova e a MPB.
Neste ponto é interessante observarmos que
não é a origem do Funk o problema, mas sim o momento que esta origem passa
dentro da aculturamento de toda uma sociedade. As letras de poesias,
rabiscadas, desenhadas em qualquer cabeça que as conceberam são agressões às
famílias, às jovens que sem a proteção ao pudor giram em torno dos balanços
inconsequentes da tolerância de pais e mães impotentes no entendimento de
tamanha violação que as entranhas de seus lares são forçados a ouvir, mesmo
repugnando e que gira nos entornos de seus muros, procurando a brecha para agir
e dominar.
Que os deuses da música possam abraçar e
culturar esta enormidade de mentes, que deem um giro de 180 graus e mudem a
rota desta peversiva e corroedora
Outro ritmo que tem desgastado e agredido os
ouvidos incautos dos que apreciam a música é o nível das letras e das músicas
dos chamados Cowboys universitários e sertanejos.
O tão admirado sertanejo, respeitado em
belíssimas letras, onde fala de amor, traição, vitórias pessoais e a relação de
gratidão do homem com seus animais, passou a ser usado, nominado como
dormitório de um péssimo gosto musical dos letristas, poetas e cantados aos brados
por gargantas roucas, desafinadas e alimentadoras de umas das maiores agressões
a um movimento cultural, musical, que é originalíssimo Sertanejo.
Somos obrigados a conviver com uma agressão
indomável aos nossos ouvidos, ao optarmos em ligarmos os rádios nos programas
musicais e ou ao frequentar festas ou na convivência diária na sociedade com
amigos e amigas que denotam admiração e valoram pelo modismo, tão incautos tons
e ritmos que emergem dos corações destes afamados letristas que afanam nossa mente,
com suas doenças e "delinquências mentais" (definição perfeita feita pelo tio Luis Carlos Delazari).
O carnaval outrora momento de profundos
movimentos das bandas e bandinhas, que ao som de clarinetes e trompetes, em
vozes aveludadas e afinadas, feito a voz divina, com belas e cadenciadas
poesias, com melodias suaves que animavam aos bailes e matinês nas ruas, bares,
botecos e salões lotados dos clubes sociais. Hoje este mesmo belo movimento
cultural e com características bem brasileiras, reproduzem em seus salões,
ruas, bares e botecos, o que repercute nos gostos do dia a dia da maioria da
sociedade brasileira. Nas cabeças e mentes dos jovens simples aos mais
abastados. Em potentes sons adaptados aos seus carros, em caixas portáteis que
carregam de um canto ao outro com desenvolturas, nas esquinas, nas casas e nos
salões somos obrigados a ouvir e conviver com esta agressão cultural a todos os
que não prestigiam, não gostam e não apreciam tamanha degradação e empregos de
verbos e adjetivos na indução de movimentos e imaginação a atos e praticas
sexuais. Agressões às mulheres, desrespeitando seus direitos e colocando-as
como objetos maleáveis e moldáveis aos seus impulsos e vomitação musical.
Chega a ser desolador e é constrangedor,
ouvir e ver repercutir entre nós tamanhas baboseiras que nossos ouvidos
alcançam em suas audições e que nossos olhos captam nas esquinas, nas ruas, nos
bares.
Oxalá possamos passar com rapidez este
momento de estupidez musical que hora nos assolam. Sem o intuito de incutir
gostos musicais ou ditar normas de comportamentos aos nossos jovens, à nossa
sociedade, tenho pena de ver estes momentos tão marcantes em suas formações e
na formação de toda sociedade andarem para caminhos tão indesejáveis e
depreciativos dos valores e costumes.
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