Eu, Elson Detone, o Tempo e a Saudade de um amigo
Ciganos que somos, andantes desta estrada pedregosa, cheia de curvas e labirintos a nos levar a caminhos diversos, precisamos nestas andanças, cuidar de nossas pegadas, para que, ao olharmos para trás e as vivenciarmos, não termos dúvidas do bom percurso dos passos bem dados, da firmeza e correção.
Pela própria essência de ser pecador que é o animal humano todos nós carregamos determinados pesos nas costas. Tenho toneladas, com certeza, mas nada que me deixe receoso e que não me dê a tranquilidade da maravilha, da bela vida e caminhada que percorri até agora.
Nesta caminhada, pude conhecer e fazer uma diversidade de amigos. Alguns em seu tempo, verdadeiros irmãos. Outros, o tempo mostrou-nos conhecidos, e tantos outros ficaram como pétalas ao vento.
Na segunda parte de minha vida, construí uma caminhada junto com minha família na bela Ipatinga, período extremamente importante na construção de minha formação intelectual e política.
Nesta fase da vida compartilhei da amizade de algumas figuras maravilhosas.
Nesta minha última fase de Ipatinga, encontrava-me funcionário da Bemoreira, maior rede de lojas de eletrodomésticos de Minas Gerais naquele tempo. Neste período pude cultivar uma das melhores amizades que me marcou até hoje, mas que, pela minha fugida para o Sul, e a dele para o Canadá, acabamos por nunca mais nos falarmos.
Nesta minha última fase de Ipatinga, encontrava-me funcionário da Bemoreira, maior rede de lojas de eletrodomésticos de Minas Gerais naquele tempo. Neste período pude cultivar uma das melhores amizades que me marcou até hoje, mas que, pela minha fugida para o Sul, e a dele para o Canadá, acabamos por nunca mais nos falarmos.
Agora, pela extraordinária universalização da internet e de suas redes sociais, consegui, através de pesquisa no Facebook, encontrar meu querido amigo e irmão, Elson Detone, que carinhosamente o chamava de Detone.
Detone, juntamente com a Consola (não sei também onde anda) era o responsável pelo departamento de discos, vinil, fitas kassetes, vixiii, agora fui longe eim. Mas o Detone, parecia já àquela época mais europeu do que brasileiro, branquelo, cabelo loiro liso, mas de um sorriso inconfundível. Amigo para todas as horas, para qualquer parada.
Juntamente com o Silveira, eles eram igual a carne e à unha, moravam lado a lado, iam e voltavam para o trabalho juntos, e faziam quase todas as coisas juntos.
Sacanagem, mas eram próximos, pareciam siameses.
Sacanagem, mas eram próximos, pareciam siameses.
Ao contrário do Elson, eu e o Silveira, mais o João do balde, concorríamos todos os meses para ver quem mais vendia. Invariavelmente, o João do balde ganhava, eu e o Silveira disputávamos o segundo lugar, mas de vez em vez, também ficávamos em primeiro lugar, mas sem stress. Stress era quando aparecia o Irion, de forma aloprada, por qualquer coisa gostava de chamar algum de nós em um canto e dar aquela chamada de chefe.
Isto, era um tempo em que, quando saí de lá em 1983, o vídeo cassete tinha poucos meses de vida. Nesta turma ainda incluiria o Orestes, e mais uns dois que me falta à memória os nomes, mas suas faces me são perfeitamente presente.
E aí é que eu e meu amigo Elson Detone demos o passo de caminhos distntos na encruzilhada da vida.
Naquela época, começava em Ipatinga uma evasão de mineiros para os Estados Unidos, o Elson era apaixonado pelo Canadá, eu, pelo Brasil. Antes de partir para a minha escapada que já dura quase 30 anos, alguns amigos haviam optado pelos Estados Unidos e queriam que de toda maneira eu os acompanhassem, preferi ficar. Mais tarde debandei para o Sul do Brasil. O Elson, se não estiver enganado só dois anos mais tarde resolveu rumar ao seu amado Canadá.
Quando o Irion, nosso gerente, com toda sua bravura, arrogância e indelicadeza, pegava um de nós para cristo, era só olhar para o Elson e o víamos comendo a gravata marrom do lindíssimo uniforme bege e marrom da Bemoreira. Vixi.
Mas o Elson, era o maior comedor de gravata que já conheci, ( o Irion, também devorava uma gravata) tinha hora que passava tanta raiva que a voz sumia, a cara envermelhava e os olhos lacrimejavam. Grande figura.
Mas o Elson, era o maior comedor de gravata que já conheci, ( o Irion, também devorava uma gravata) tinha hora que passava tanta raiva que a voz sumia, a cara envermelhava e os olhos lacrimejavam. Grande figura.
Tenho dois momentos que não me saem da memória no que envolve o Detone.
O primeiro era o entrelace de marmitas, entre ele, o Silveira e eu. Coisa do outro mundo. Um enfiava o garfo na marmita do outro e pegava o pedaço de frango, da carne ou o ovo, o macarrão ou o feijão, meio estilo virado paulista, que a tia do Elson fazia. Coisa de cinema.
Certa vez, estavam construindo uma concessionária de carro frente a Bemoreira, e víamos os pedreiros esquentando as marmitas na areia de um fogão improvisado. Para minha surpresa não demorou todos nós estávamos esquentando a marmita na areia. Detalhe, na areia, a marmita não queimava a comida. Coisa fora de série. Nosso fogão de areia, era o fogão de micro ondas que só uma década depois foi surgir entre nós.
A outra cena mais marcante que guardo de meu amigo Elson Detone, foi na última semana de Natal que passamos juntos, no Natal de 1982. Como ficávamos trabalhando até as 10 horas da noite, lá pelas 9 da noite, já não dava movimento, aí encostávamos no departamento do Elson e da Consola para ouvir música. Aí era aquele Deus me acuda, chegávamos a sentar no chão, entre os balcões dos discos. A música que fazia o Detone sonhar e imaginar o Canadá, era de um certo John Lenon, e a música era uma tal de IMAGINE, que por acaso é a música mais tocada em todo o mundo. John Lenon, Supertramp, Pink Floyd, Queen, Rolin Stones, Eagles, Eric Clapton, Black Sabat, eram alguns dos nossos preferidos e tudo que era novidade deles o Elson fazia-nos comprar. Que maravilha.
Após quase 30 anos, reencontrei meu amigo, estou conhecendo por fotos a sua família e com certeza haveremos de nos reencontrar, para abraçados, chorarmos ao relembrarmos daqueles tempos tão idos e maravilhosos de nossas vidas.
O Dodginho que pude comprar, e sua placa que nunca saiu da minha memória, pude recentemente ao tirar uma Ecosport zero emplacá-la com a mesma placa. Naquele momento pude relembrar do Elson, do Silveira, que compartilhávamos a maioria dos nossos problemas, das nossas histórias, das nossas aventuras, desventuras, sonhos e planos.
Valeu.
Meu primeiro post em 2012, não poderia ter a cara de uma figura tão marcante em minha vida, que neste momento me faz redobrar meus sonhos e planos.
Pela cara o 2012 será marcante.
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