Caminhos que me levam a Londres
Caipira do interior de Minas Gerais, da bela cidade de Sem Peixe, qual o caminho me leva a Londres ou quais os caminhos que me levam a Londres?
Acredito que o mesmo que levou tantos outros caipiras ou não, de Minas, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro a procurar um lugar em que pudéssemos nos encaixar.
Alma nova, mente livre, vontade de vencer na vida, desprendimento, sonhos e planos, a mochila jogada nas costas, pé na estrada.
Longe dos aconchegos da família, comidinha quentinha e saborosa ao chegar em casa, roupa lavada e passada ao sair do banheiro, café na mesa ao levantar, beijo ou até logo na mãezinha querida e um cafuné no cachorro no quintal.
Futebol durante a semana, romarias aos botecos, escapadas da escola, com mil desculpas para nos enganar.
Verdadeiramente temos coisas em comum.
Originários de país do terceiro mundo, com base em educação precária, poucas perspectivas de ser bem sucedido na profissão, após mais ou menos vinte anos no banco escolar (primário à faculdade), procuramos cada um a grosso modo, trabalho, trabalho, trabalho para alimentar nossos sonhos.
Alguns, vão para os EEUU, outros Japão, uns tantos Europa, aí o estupro é enorme, a violência extravasa.
Línguas diferente, costumes diferentes, conceitos diferentes, apesar da moeda forte, a humilhação inicial é maior.
Uns viram lavadores de prato ou garçons, garçonetes nos Pubs, outros babás, jardineiros, pedreiros, carpinteiros, moto boys, garotos de programa, prostitutos ou prostitutas.
Outros vão para São Paulo, Rio de Janeiro, Tocantis (amiga Alexandra) Paraná (olha nós aí).
As profissões?
As mesmas.
Sofrimentos, angustias, as mesmas.
Diferença?
Vivemos entre nós, talvez com menos, mas com certeza, com muito mais.
Não usurpamos o Português, não nos humilhamos perante a raça ariana.
Por outro lado, ficamos com a pobreza de falar apenas uma língua, conhecer só a nossa cultura, só o feijão com arroz, talvez batatinha frita, quem sabe um ovinho frito em cima de um contra filé, tomatinho com cebola, alface, o saborento do xuxu, o quiabo com angu, frango a molho pardo, um acarajé, vatapá, baião de dois, ou a magra feijoada, com a tal da gelada, espumando saindo pela beirada, um churrasco ao fogo de chão, barreado, cachaça, quentão.
Inúmeras as receitas, além é claro, do samba, bossa nova, tropicália, a ginga do futebol, basquete, voleibol.
O que nos fica evidente, é que todos, com dor no peito, sofrem, mesmo no mais belo sucesso, que é a labuta do dia a dia, recebendo em dólar, euro ou libra esterlina, são todos heróis, que deixam para trás, amigos, irmãs, namorados, pais e mães, que na barra do avental enxugam as lágrimas da despedida dos que se vão.
Uns voltam com freqüência, outros, não conseguem, não podem e ficam sofrendo no solavanco da dureza da saudade, do abraço, do amor, da bronca, do carinho, do afeto.
Alguns com rebentos, maridos, esposas, que a família nunca conhecerá, independente se o que os separam é a língua, ou apenas a distância, Europa, Tocantis, Amazonas, São Paulo e por aí vai.
Felizes aqueles que partiram, sonharam, lutaram e têem razão para amanhecer o dia, sorrindo e renovando a fé do sonho embalado.
Mesmo os que ficam e por aqui perambulam pelas esquinas da Augusta, pela brisa de Copacabana, pela durezas dos cerrados, são um pouco estrangeiros neste Brasil brejeiro.
A Londres que conheço, desfila nas páginas dos jornais, nas telas das tvs, dos cinemas, nos alto falantes dos rádios.
Meu inglês é tão caipira, que um dia, professora de aula particular, falou que o sotaque do meu inglês, era um verdadeiro sotaque inglês.
Aí me peguei sorrindo, sou inglês lá da minha metrópole Sem Peixe.
Carlos Alberto Cotta
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