Cida, a mãe e sua PFAFF.








 


Cida, a mãe e sua PFAFF. 

Desfile de bonecas.

Parece coisa meio pra lá, mas é o que a frase exprime, desfile de bonecas.

Lá pelos anos de 1968, 69, na garagem da casa da tia Edite (minha madrinha) Dodora, Alcione, Titita, tia Julita, as meninas de dona Vera, tia Preta, dona Filinha, dona Fía e outras tantas, mas a mais aparecida, meio fulo, era a Cida.

Com trejeitos de artesã, suas bonecas eram impecáveis, quem sofria nas mãos dela era a mãe e a sua PFAFF.

Recordo que ficávamos lá.

Eu, o Zé Pedro, o Lau, os meninos do tio Totó.

E a coisa era chique do último.

Tinha bolos, doces, Q suco, ai que delícia, Q suco de groselha bem gelado.

Geladeira eram poucos que tinham. O tio nonô era um dos poucos que tinha.

Este desfile, concurso, era um acontecimento.

O problema é que a mãe era a costureira de todas as meninas, incluindo as suas duas, mas a que mais era ardidinha, era a Cida, cada hora era uma rendinha em lugar diferente, uma florzinha aqui outra ali, a Dinha ia a reboque.

Na casa do vôzinho, no sitio, as coisas giravam ao redor da tia Julita, como eram quase que irmãs, a tia Julita brincava de casinha e boneca com elas.

Entre jogos de maré, queimada, preparos para os desfiles de baliza na fanfarra, festas de São Sebastião, de Maria, festa do Rosário, Juninas, sonhos de Natal, giravam as fantasias que dominavam os sonhos de uma geração linda de Sem Peixe.

Ipatinga, é um caso a parte na relação de nossa família, desde quando fomos morar na travessa violeta, em uma época que os esgotos corriam céu aberto, até os momentos de encontro, com as escolas, namorados, namoradas e casamentos.

O pai, sempre muito bravo, mantinha suas duas cabritinhas sobre controle. Pelo menos quando levavam e apresentavam seus namorados. Aí a dor de cabeça era enorme.

Namoro na sala, sair para a rua era só acompanhadas, e namoro no incio até as 9 horas, depois liberava até as 10 horas.

A Cida trabalhava e estudava ( a Dinha também, aqui o caso é a Cida) no Foto Èlio, naquele prédio na esquina de baixo, frente aos Correios, na João Valentim Pascoal.

Eu trabalhava na guarda mirim, depois fui trabalhar na casa do sapateiro.

Quando na guarda mirim, levava o almoço para as duas, trabalhavam ao lado.

Quando fui trabalhar na casa do sapateiro, o Helinho era quem levava o almoço. Eu ia lá na boutique do Marquinhos ou no foto almoçar.

Tempo bom, de sonhos, e de tanta novidade, coisa que matuto não via.

No primeiro dia das mães que comemoramos com todos trabalhando, lembro que compramos para a mãe, um ferro elétrico TUPY, um liquidificador ARNO de cinco botões e o Geraldo comprou uma geladeira BRATEMP vermelha, em 60 pagamentos. Que modernidade. Mas acima de tudo, que solidariedade. Éramos como mosqueteiros, um por todos, todos por um.

Vivíamos voando, mas nunca saíamos de baixo das asas da mãe, por mais que nos oferecesse o mundo para conhecer, era como na távola redonda. Não só nós filhos, mas os tios Miguel, Julita, Luiz, Joaquim, as amigas da mãe, as amigas e amigos da Cida e da Dinha, nossos amigos e amigas. Tínhamos um imenso prazer em estarmos em volta da távola da dona Matildes.

A Cida neste período, entre namoricos, acabou encontrando o seu Valdi. Sempre gente boa, sempre boa praça com todos nós, figura ímpar.

O namoro deles era uma diversão, principalmente para mim e para o Helinho.

O seu Valdi tinha uma bicicleta, um verdadeiro camelo. Acho que havia herdado do pai dele.

Morávamos a duas quadras da farmácia Sandra, no prédinho mais agitado da Av das flores, qualquer que fosse o motivo que a mãe nos pedia para fazer, estávamos lá, na cola do cunhado pedindo a bicicleta emprestada, naquela época ele tinha cabelo, bastante cabeludo, diga-se de passagem.

Fim de semana, a Cida queria ir ao cinema, bom, neste caso, eu era o escolhido, como sem companhia eles não podiam sair, lá ia o Carlinhos fazer um favorzinho para os dois, que favores.

Eles queriam ir a qualquer outro lugar, lá ia o Carlinhos, só que fora o cinema, no resto não os acompanhava, sempre ficava naquele posto ali ao lado da Prefeitura, combinávamos o horário de reencontro. Ah..não íamos de bicicleta, era de Chevette marrom claro.

Bom, passeio na praia, neste caso foi só uma vez, fomos para Setiba, acampar, que delícia, a maravilha desta viagem era eu cantando. Até hoje acho que os dois sentem arrepios só de pensarem em me ver cantando.

Lembro bem a Cida entrando na Igreja para casar, na igreja da família do Divino, minha mãe sempre foi democrática.

Casados, eu era freguês assíduo da casa deles, comendo macarronada, fazia competição com seu Valdi, acho que batia um pratinho lá umas duas vezes por semana.

Tomava vinhos, wisk, cachaça, tudo com macarronada e feijão preto.

Quando nasceu o Gustavo, aí é que eu não saía de lá, eram todos os dias, ele chegava a dormir em minha barriga, eu deitava na rede e ele vinha dormir em minha barriga.

Fazíamos junto com o Dedeco uma farra tremenda.

A dona Matildes, vivia em apuros permanente com a dondoca Cida, fosse nas costuras que ela não dava sossego para a mãe, fosse em todas as suas coisas que sempre compartilhou, chorona como criança que perde a chupeta, ficou pendurada umbilicalmente a nossa terna mãe.

Quando a Amélia nasceu, tirei a minha última foto em Ipatinga antes de vir para o Paraná, com ela em meus braços frente ao portão, e com o Dedeco e o Gugu e a Lila, outra carrapata em mim.

Tempo, que se presa passa, e passa rápido, casei e a maior lembrança que a Jakky tem da Cida, foi quando ela foi nos visitar em Belo Horizonte quando casamos. Sentada à mesa tomando café, choramingando a saudade do seu Valdi que estava pros esteites, ela solta um tremendo pum na mesa.

Até hoje quando alguém, exceto ela, se descuida da flatulência, ela fala, ô tia Cida.

Quando alguém chega e pede um pedacinho para experimentar, ela fala ô tia Cida.

Sua passagem por Maringá foi muito boa, adoramos muito, sentimos enorme saudades, deliciosas lembranças de almoçar na casa dela e ela aqui em casa. Vários fins de semana passados no sitio do tio Luis, e deliciosos momentos de recordações da vida vivida no seio de nossa família com vôzinho, vózinha, a mãe, o pai, e todos que fazem parte desta távola.

A Cida que das bijuterias construía seus castelos, até a Cida, que com seus pimpolhos fez o seu castelo. Florido, farto de água e enorme toque amor.

Sou um privilegiado filho do seu Augusto com dona Matildes, encaixado como ponto de equilíbrio de uma família de nove irmãos.

Sou o quinto.

Cida, enorme beijo neste maravilhoso coração.

 

 

Comentários

Anônimo disse…
Ah o KKY e suas lembranças tão fantásticas de tempos bastante passados...e eu até gostaria de estar lá também....rsrsrs
Fico até com inveja de uma memória tão boa e tão nostálgica!!
VC é mesmo um expert com as palavras escritas...

beijos , te amo.
Sua Jakky
Unknown disse…
Se eu não tiver uma homenagem desse nível pra melhor vai rolar estress na família heim!?! hahahaha
Unknown disse…
_Carlinhos...quanta lembrança boa...que tesouro de memória a sua...buscar com tanta poesia nossas deliciosas lembranças.-Obrigada...meu irmão querido...só vc mesmo prá me proporcionar este momento ímpar.Te amo...vc e sua família.Foi sem dúvida um presente divino a oportunidade de nos conhecermos melhor e crescermos tanto com a convivência que tivemos aí.Beijos...muitaaaaaa saudades.cida.

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