Nô - Raimundo Estevam Ferreira



Nô, Eu e um colega de trabalho.

Carregamos em nossos corações, lembranças e recordações que naturalmente nos acompanham por toda a vida.
Cada um, seleciona em seu sub-consciente aquelas boas, adoráveis, inesquecíveis, e aquelas da qual nos recusamos a recordar.
No meu caso, em minha peregrinação, pelas lindas e belas cidades que tive o prazer de aportar-me e ser acolhido, confesso que contaria nos dedos da mão direita as que não gostaria de recordar.
Do mesmo modo, nas minhas relações profissionais, desde meu inicio como trabalhador, e foi muito cedo, até agora, não recordo de nenhum lugar que eu tenha sentado em uma cadeira para trabalhar, ou ficado em pé em uma porta de um loja, não recordo um momento sequer que não gostaria de lembrar.
Talvez, a única que não gostaria de lembrar seja o momento que tive de retornar para o Paraná, quando estava em Belo Horizonte, mas não algum sentimento negativo com relação à empresa, ao contrário, só tenho boas lembranças e ótimos aprendizados, mas sim, pela vontade de não ter voltado para o Paraná.
Eu queria o colo dos meus.
E mais do que fazer parte de minha vida, o meu inicio de carreira como trabalhador, foi maravilhoso, talvez seja por isto, ou por necessidade, que nunca perdi o prazer e a vontade de trabalhar.
Mudamos de Sem Peixe para Ipatinga, na carroceria de uma pick up do Tio Miguel em 1974, eu com 12 anos, pisava pela primeira vez em um cimento preto, o asfalto.
Em Ipatinga a mãe dedicava à sua escola, o pai à sapataria e os irmãos mais velhos, cada um e uma, se arrumando para trabalhar e ajudar no orçamento.
Eu fui para a Guarda Mirim de Ipatinga, onde tive enormes aprendizados.
Em 1975, o pai era cliente da Casa do Sapateiro, e não me recordo se foi ele, ou a mãe, que conversaram com o proprietário, me arrumaram um trabalho lá.
Sai da Guarda Mirim e fui trabalhar de vendedor com uma das pessoas que mais me ensinou na vida.
O NÔ, um filho da terra de Nossa Senhora da Saúde, Dom Silvério, figura ímpar, maravilhosa.
Ele e o João Teodoro, seu funcionário, me receberam de braços abertos, eu era tratado a pão de ló.
A Casa do Sapateiro funcionava em uma casa velha de madeira, ao lado de onde hoje tem a nova, na 28 de Abril em Ipatinga.
Gostei tanto e o Nô também, que aos 14 anos, para surpresa geral, ele assinou a minha carteira profissional, coisa praticamente impensável naquela época e hoje é proibido.
De sorriso largo e boa praça, toda hora que íamos conversar ele debruçava sobre o balcão de madeira e ficávamos ali falando de tudo e o João era um verdadeiro urtigão, até arrumarmos para ele uma namorada, que acho acabou casando-se com ela.
O Nô morava na própria loja, no sótão, onde tinha uma cama, um guarda roupas e uma televisão.
Foi nesta televisão que assisti em 1976 a final do Cruzeiro e Bayerm no Mineirão - https://www.youtube.com/watch?v=CMPqwxgZve8 .
E foi por minha causa que o Nô, em 1977 foi assistir a um jogo do Cruzeiro e Atlético, uma final, fomos em sua Variant que acabara de comprar, Zero Km, coisa linda. Ele falava que não, mas tenho quase que certeza que foi sua primeira vez no Mineirão.
O Nô era muito amigo do baiano, dono da Casa Amazonas, sempre que pudia, eles estavam conversando.
Esta amizade acabou me ajudando a pegar a assinatura do baiano no abaixo assinado que eu liderei para implantarmos a semana inglesa no comércio de Ipatinga, o Nô foi comigo pessoalmente no baiano e fez ele assinar. Nesta época, em 1980, acho, eu trabalhava na Bemoreira.
Tratava seus clientes com extrema delicadeza, e a cada um a seu modo, os cativavam, ele sempre me ensinava a entender estas diferenças, e a deixar para o cliente a razão, e não vender mais do que o cliente precisava.
O Nô casou-se, mudou a loja de lugar e eu acabei saindo de Ipatinga, mas todas as vezes que voltava à casa dos meus pais, tinha um recado dele para mim.
Na última vez que estive com ele junto com minha mãe, ela estava acertando com ele uma vaga em sua turma de pescaria para levar o meu pai.
Era um presente que o pai acabou não recebendo.
Minha mãe partiu naquele mesmo ano para mais perto dos céus, de onde certamente deve estar acolhendo-o neste momento, pois ela tinha enorme consideração e gratidão pelo Nô.
Valeu meu amigo.
Ainda como, aquele pão com manteiga, embebido no copo de café, e sempre que o faço, falo para os meus e para quem está à minha volta, que copiei isto de você.
Em breve, pois nossa passagem por aqui, o é, nos encontraremos, esta é a única certeza da vida.
Abraços e saudades.




Comentários

Unknown disse…
Deus conforta os familiares e amigos....vá em paz Nô

Postagens mais visitadas deste blog

Família Cota, Cotta, sua origem

José Antônio do Nascimento - Sem Peixe

Galo que cisca, galinha que canta no raiar do dia