Guizadinhos na Marmita


Nô, Eu e um colega de trabalho













A onda dos serviços de restaurante, Self Services, invadiu o Brasil a partir da década de 90, o que facilitou muito a vida dos trabalhadores brasileiros.
Antes, sair cedo para o trabalho, era sinal de carregar uma marmita debaixo dos braços e ou contar com algum serviço caseiro de levar a sua marmita.
Hoje com os serviços de restaurantes próximos aos locais de trabalho, com os vale refeições, cozinhas industriais que abastecem as empresas, a vida das marmitas está em forte decadência, exceto as entregues quentinhas, por restaurantes e empresas, em sua maioria domésticas.
Eu, como iniciei as atividades do trabalho aos 12 anos, quando me ingressei na Guarda Mirim de Ipatinga, evoluí no ano seguinte, isto em 1.975, para um trabalho inesquecível na Casa do Sapateiro, loja do até hoje meu estimado Nô.
O Nô, era de Dom Silvério, cidade próxima a Sem Peixe, e morava em Ipatinga como nós, meu pai como era sapateiro, era seu cliente, e eu consegui este emprego através do meu pai.
Trabalhando na Casa do Sapateiro em período integral, eu levava minha marmita todos os dias. Minha cozinheira, até o dia em que resolvi sair de casa, e parar no Paraná, foi a melhor cozinheira do mundo, minha adorável e querida Matildes, minha mãe. Suas comidas, até na marmita, eram gostosas.
Levar a marmita pela manhã, dava um enorme trabalho, pois a mãe tinha que acordar mais cedo para fazê-la e carregar marmita, junto com o material escolar (do trabalho íamos para a escola), em ônibus super lotados, não era coisa muito fácil.
Um fator que depreciava a marmita, era ter que esquentá-la, sempre dependíamos de favores alheios. No meu caso, era um bar ao lado da Casa do Sapateiro, depois quando fui trabalhar nas lojas de Eletrodomésticos, Bragança com o Orestes, Brasilar com o Raul, Bemoreira com o Irion, tinham os fogões a gás, o que modernizou nossas marmitas, mas, sempre queimava o fundinho da marmita.
Em alguns casos, para evitar este problema, colocava em banho maria, mas gastava muito gás.
Já na Bemoreira, um dia o Silveira descobriu que os pedreiros de uma obra em frente, Ford, esquentavam suas marmitas em um fogãozinho à lenha, imersas em areia, o que não permitia queimar o fundo da marmita. Tecnologia avançada. Foi uma festa. Outra festa, era a troca das misturas. Abríamos as marmitas, principalmente eu, o Elson Detone e o Silveira e trocávamos as misturas, ou simplesmente enfiávamos o garfo ou colher na marmita do outro e roubava a mistura e saíamos correndo, feito crianças, isto para homens de mais de 20 anos nas costas.
Mas, alguns lances que envolvem a marmita que recordo bem, existia um garoto no Bom Jardim, bairro em que eu morava, e que minha família mora lá em Ipatinga, que tinha uma bicicleta pequena, e ele nos autos de seus 12 a 14 anos mais ou menos, levava todos os dias, nesta bicicleta, umas 10 marmitas na hora do almoço para funcionários da Usiminas, que deveria ter naquela época uns 20 mil trabalhadores.
Eu ficava pensando, "que garoto esperto, deve ganhar uma grana boa". ele fazia um percurso de uns 6 a 8 Km, do Bom Jardim até a portaria da Usiminas.
A Cida e a Titita trabalhavam no Centro, a Dinha na boutique do Marquinhos e a Cida no Foto do Hélio, na Av João Valentim Paschoal, frente aos Correios, acho que por volta de 1.976 a 1.978, e elas, com a volta do Helinho para casa, morava com nossos avós em Sem Peixe, montaram um esquema do Helinho levar as nossas marmitas, ele, além de alguns mimos, passeava de ônibus. Aí nossas marmitas chegavam quentinhas com comidas fresquinhas, passamos a ficar bonitos na foto.
Ai o Helinho arrumou emprego e esta mordomia acabou-se, intercalada de vez em quando, pelo pai e pelo Toninho ou Zé Pedro quando estes tinham que ir ao Centro na Casa do Sapateiro buscar material de trabalho.
Eu fui trabalhar na Bemoreira, no Horto, e tinha que levar minha marmita diariamente, a Cida e a Dinha, também voltaram às marmitas nas bolsas.
Um dos inconvenientes das marmitas é o que colocar nela de manhã e na hora do almoço ainda ter sabor.
Recordo-me que, as únicas comidas saborosas que não perdiam qualidade, era o quiabo, normalmente com frango e os refogadinhos, principalmente os guizadinhos que a mãe fazia. Coisa de bater em doido. Simplesmente deliciosos.
O guizadinho, feito de chuchu, quiabo e abobrinha com pedacinhos de carne de porco e ou boi, e algumas vezes no ano por bacalhau, acompanhado naturalmente por angu.
Mas o maior amigo dos marmiteiros era o famoso ovo frito. Este dominava a maioria dos dias da semana.
Saudades dos personagens, não da marmita, ela continua minha companheira.


Comentários

Unknown disse…
Boas lembranças. .coração até doi..mas me lembro tbem da batata picada miuda e frita..pingando agua..pra ficar cricante e macia.Ficava bem gostosa na marmita.
Carlos Cotta disse…
Quem tem estas lembranças?
Tem que colocar o nome.
Beijos.

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