Meu domingo de Maio, abolição da escravatura, dia das mães























Mês de Maio e sagrado mês das Marias, sagrado mês do inicio do fim da miserabilidade da humilhação humana, a Escravidão.
Com muita saudade, minha memória me transporta a Sem Peixe, me transporta à voz de Agnaldo Timóteo, me transporta às rezas, novenas do mês de Maria.
O mês de Maria, as barraquinhas na praça São Sebastião, bingo de bolo, frangos assado, leitoa assada, pudim, caçarola e os inesquecíveis oferecimentos de música pelo alto falante da Igreja, e na aveludada voz de Agnaldo Timóteo a música que mais ouvíamos e oferecíamos, era Mamãe Estou tão Feliz, http://www.youtube.com/watch?v=GAdmrKlQs2g , custava ao preço de hoje, talvez, um, dois reais para oferecermos a música.
- E agora com o oferecimento de Carlinhos de Matildes. Cantada por Agnaldo Timóteo, Mamãe Estou tão Feliz. Carlinhos oferece para sua querida mãe e para todas as mães de Sem Peixe.
                Era o ápice. Coisa linda, e a questão principal é que tinha sempre umas cinco, seis músicas na frente, aí era o tempo de sair correndo e ficar perto da mãe e quando começavam a falar a gente olhava para a cara dela e via aquele sorriso lindo e sempre a mesma frase.
                Ô meu filho, muito obrigada.
Naturalmente, com sete filhos, ela, a minha Matildes, ouvia algumas vezes a mesma música e com seu inesquecível sorriso deixava-nos mais felizes do que ela.
O mês de Maria para os mineiros é um dos meses mais comemorado, mais sagrado, independente de quem venha a ser o padroeiro e ou padroeira da cidade, do distrito. Além da figura sagrada de Maria, a mais amada imagem feminina cristã, temos a figura insuperável das nossas queridas mães. Como os mineiros são fervorosos praticantes do catolicismo, une-se a imagem da mãe de todos nós e da nossa mãe. As novenas, e as festas de Maria figuram uma mistura mística do sagrado através daquelas que nos carregaram em seus ventres, daquelas que nas dores do parto, nos entregou ao mundo, daquelas que mesmo com fome, saciavam a nossa fome com seu sagrado e delicioso leite materno, daquelas que trocavam as noites pelos dias, que nos achavam os bebês mais lindos do mundo, mesmo sendo o quinto e que a beleza física nunca tenha sido nossa aliada. Mas, mãe é mãe, seus olhos sãos os mais perfeccionistas do mundo, seus sorrisos os mais belos, seus corações os mais potentes e espaçosos da figura humana.
                A imagem de minha linda e bela mãe é permanentemente associada das coisas e da vida em Sem Peixe, todas nossas travessuras e a sua brandura em nos acalentar mesmo com as mais fortes das repreensões, os caminhos que nos propunha a caminhar, a força imensurável do vôzinho a sustentá-la em suas aflições, o que a nós passava ao largo da compreensão de menino, menina. A sua devoção pelas crenças religiosas, a sua carismática forma de relacionar-se, a sua luta permanente para alcançar seus objetivos, sua peregrinação, força para superar os obstáculos e dificuldades do dia a dia, sua marca como mestre da Escola São Sebastião, suas marcas nos corações e subconscientes naqueles que tiveram o privilégio de tê-la tido como professora. Sua união voraz com a máquina de costura, momentos de enormes gargalhadas com as amigas e freguesas de costura, nas provas das roupas, que demoravam horas e horas, no vai e vem da antiga PFAFF, e os papos jogados ao lento.
                E na singularidade do Sem Peixe em meu coração, carrego permanentemente o plural amor por aquele chão que me ofereceu a mais bela e querida mãe, amor umbilical, amor de todas as faces possíveis, amor por todas maravilhosas e lindas mães que pude abraçar naquela terra de todos os santos, pois todos, em todos os meses por lá são reverenciados, seguindo as mais antigas tradições. Mães de coração único, vózinha, Ana Ribeiro, tia Fióta, Madrinha Edithe, Dona Fía, Dona Alaíde, tia Naná, e todas as mães Nascimento, Barcelos, Cotta, Carneiro, Miranda, Alvim, Paiva, Souza, Schitini, Gonçalves. Todas nas suas belezas, bondades, tolerâncias, acolheram a todos nós que adentrávamos em seus lares, correndo, brincando, brigando, pedindo para pegar fruta no quintal, filando uma bóia, pedindo um doce de leite, um canudinho, passando fins de semana em suas casas, suas fazendas. Tudo criando um caminho maravilhoso de muito amor e carinho.
                A nossa maravilha mãetildes nos proporcionou vários espetáculos, emoções.
                A escravidão no Brasil com toda sua brutalidade, sua miserabilidade, teria que ser extinta em um mês de sagrado valor para os corações dos homens.
                Mês de Maio.
                Mês de Maria.


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