Uma tal solidariedade.



http://noticias.uol.com.br/album/081201_sc_album.jhtm?abrefoto=15

Tem certas coisas que acontecem que ficamos a questionar.

Como pode acontecer isto?

O que levou a isto?

Certas coisas, que, em nosso meio, são falhas nossas, individuais, mas do nosso convívio, temos sempre a resposta.

Imprudência, isto um dia iria acontecer, é o destino, e por ai vai.

A maioria das coisas, que naturalmente não acontecem em nosso meio, as culpas e as razões sempre ficam distantes de nossas percepções.

Mesmo que as razões sejam obvias, estas, nunca aparecem.

Responsabilidades, respeito, dignidade, vários são os fatores que se ausentam, nos responsáveis pelas causas ou simplesmente pelas respostas.

Vivemos neste momento, um viés de angustia, impotência, quase sempre nos encontramos com lágrimas nos olhos, quando sentados à frente da tv, assistindo qualquer telejornal.

A razão.

A tragédia, a calamidade, o sofrimento de nossos irmãos catarinos.

Perto de nós, ações maiores que conseguimos desenvolver.

Primeiro para quem cre, orar, fazer orações ao Deus que você acredita, pedindo acalento e conforto a todos. Paralelo a isto, dar mais uma vasculhada nos armários e juntar um tanto de peças de roupas, calçados, que para nós só iria servir no próximo inverno, ou num momento secundário. Encher uma, duas, três sacolas de roupas, calçados, colchonetes, alimentos, água, dirigirmos a um posto do corpo de bombeiros e confiar-lhe que chegará até aos destinatários, atos que tão pouco nos custam e para quem os receberem tamanho valia terão.

Outros, com pequenas quantias, ou quantias maiores, depositam em contas bancárias na esperança, na confiança que terá um direcionamento correto às necessidades de milhares de desabrigados.

Esperança e confiança que nunca traduzem a realidade.

A quantidade não importa, o que importa é o ato, o que importa é a oração, o que importa é o momento que paramos e pensamos em tanto sofrimento, tantas coisas, histórias e vidas que foram deixadas para trás.

Como que num gesto de mágica, ceifadas do convívio, que ficaram apenas nas lembranças.

Nossas, que de longe, vivenciamos o que nos é exposto pelas tvs, e deles, vítimas, que eternamente as carregarão em seus corações, em suas memórias.

Para minha surpresa, ontem num bate papo na sala do Norival (boa vida, que ainda goza suas merecidas férias prêmio) na Receita Estadual, adentra o alemão e boa praça, Fritzen.

Provoquei-o se já havia feito movimento para enviar pelo menos um caminhão de donativos para os irmãos catarinos.

Fechado a minha boca, ele conta a sua história, bonita, se não fosse trágica, mas que de alguma forma o está deixando realizado, satisfeito.

No fim de semana da tragédia do vale do Itajaí, ele estava em Blumenau, juntamente com mais uma dezena de pais e amigos para a formatura em medicina de seus filhos e filhas.

No seu caso, filha.

Quando chegaram, caravana, de ônibus, com dois motoristas, os telejornais já davam noticias extras a cada intervalo das programações, alertando a população pelo perigo, já faziam 60 dias de chuvas ininterruptas, as nascentes estavam transbordando, e o rio Itajai-açu faltava pouco para também transbordar, dezenas de ruas da cidade já estavam alagadas.

Quase que a festa da formatura da FURB, foi cancelada, mas em respeito aos familiares que vieram de todas as partes do país, resolveram manter a programação.

Ao retornar ao hotel, naquele estado de todos os pais, que após cinco anos sustentou a filha na faculdade, privando dos momentos de convívios e do peso financeiro que isto representa para todos os mortais, Fritzen no saguão do hotel, naquela chuvosa madrugada.

No saguão do hotel, naquela chuvosa madrugada do dia 22/11/2008, de repente, com os olhos fitados no televisor, em mais um plantão de noticias da tragédia anunciada, o alemão percebeu que a coisa iria ficar sem controle.

Foi de quarto em quarto do hotel, onde estavam seus familiares, chamou um por um, acordou os motoristas, pediu que pegassem o ônibu que iriam partir.

Resistências à parte, 5 horas da manhã estavam na estrada, no lado alto do rio Itajaí-açu, a estrada que sai em Joinvile, e não a estrada que sai em Itajaí, onde todo o percurso é feito às margens do rio, que àquela altura, já havia transbordado.

Resultado, apesar de algumas barreiras caídas, já na pista dupla, umas duas horas de atraso, no final da tarde de domingo estavam todos seguros em casa.

Quando pela televisão foram acompanhar o tamanho da tragédia que haviam largado para trás.

Alguns amigos que foram de carro e não quiseram vir, foram desalojados no meio da tarde do domingo e foram apara abrigos, retornando só na quarta feira.

Fritzen, que aliviado, conseguiu safar-se desta, ainda tem o privilégio, ou o orgulho da filha recém formada em medicina, ter se apresentado para ser uma voluntária, e que com seus recentes conhecimentos, está ajudando a salvar dezenas de brasileiros, catarinos e de todas as nacionalidades, que por um momento de fúria da natureza, os deixaram ao relento.

Ela, de helicóptero do exército, deslocando-se pelas áreas alagadas, devolve ao pai toda a gratidão de tamanho esforço em torná-la médica, mas acima de tudo uma filha solidária, fraterna, humanitarista.

Nós brasileiros, em sua maioria, temos berços.

Os que não tiveram ainda não teen as respostas para tamanha agressão ao meio ambiente e às catástrofes anunciadas.

As vidas e as histórias ceifadas?

Ah.. isto é apenas um detalhe.


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