O Brasil sai derrotado


Por Ana Paula Galli


Petrobras nega prejuízos com a venda de suas refinarias na Bolívia por US$ 112 milhões. "É o discurso do derrotado", diz especialista.


Como todo torcedor apaixonado, o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, sabe como fugir de uma provocação adversária depois de ver sua equipe perder um jogo decisivo. Foi assim que ele reagiu à derrota imposta pelo presidente Evo Morales, que, por meio de um decreto, confiscou as duas refinarias da estatal brasileira na Bolívia. Nesta quinta-feira (10/5), ele conseguiu reaver parte do dinheiro, US$ 112 milhões. É uma cifra pequena, se comparada com os US$ 200 milhões mínimos exigidos pela Petrobrás. Mas o que impressionou os investidores foi o discurso de Gabrielli ao afirmar que o negócio não representava prejuízo para a estatal brasileira do petróleo. “Foi o discurso do derrotado”, diz Thiago de Aragão, diretor de Análise de Risco da América Latina da Arko Advice. Foi mesmo. Estima-se que, sem as receitas geradas pelas duas refinarias, o prejuízo da Petrobrás será de cerca de US$ 9 milhões mensais. Em entrevista, Aragão revela que para o mercado as perdas são mais que certas.

ÉPOCA - Como é possível a Petrobrás perder duas refinarias e não sair no prejuízo? Thiago de Aragão - É uma situação totalmente sem lógica. Seria como alguém ter estacionado o carro e ao voltar ver que foi roubado e dizer: ‘ah, tudo bem, ele não valia nada mesmo’. Se as duas refinarias da Petrobras não fossem importantes, a empresa não teria feito o investimento. Desde que Evo Morales nacionalizou a produção e a venda de petróleo e gás na Bolívia, o Brasil tenta fazer com que ele pague cerca de US$ 200 milhões pelas duas refinarias. É uma quantia que representa apenas o investimento feito pela Petrobras quando comprou as refinarias da Bolívia, em 1999. Isso significa que estamos perdendo praticamente toda a valorização das refinarias e do estoque de produtos ao longo desses oito anos. É como se não tivesse valorizado. Para piorar, o governo boliviano pagou apenas US$ 112 milhões. Mas vamos perder também toda a atividade de refino feito na Bolívia. Como existem outros fatores a ser considerados nessa conta, como o investimento em tecnologia, o prejuízo é muito que a simples diferença de US$ 88 milhões.
ÉPOCA - Por que a Petrobras minimiza sua perda? Aragão - Este é o argumento de quem perdeu a batalha. E ela perdeu, porque foi “vendida” por um preço menor do que o de compra. O que resta é falar que não foi tão ruim assim, afinal, essa negociação poderia ter sido pior.
ÉPOCA - Por que a situação chegou a esse ponto? Aragão - Evo Morales percebeu que seria muito difícil cumprir suas promessas de campanha pelas vias convencionais. Teve de tomar medidas ainda mais drásticas e populistas para garantir sua sobrevivência política. Desde que a nacionalização foi feita, no dia 1º de maio de 2006, os bolivianos que o elegeram aguardam mudanças que melhorem seu dia-a-dia. À medida que isso não acontece, Evo fica mais prensado contra a parede. E geralmente quem ele escolhe para bater é o Brasil.
ÉPOCA - Qual o impacto da saída da Petrobras da Bolívia? Aragão - Sem o investimento do Brasil, outras empresas estrangeiras também devem parar de investir naquele país. A nossa estatal é um termômetro de confiança internacional.

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